Reflexões sobre o Trabalho Profano e Maçônico

Alusivo ao Dia do Trabalho

Em tempos de pandemia, onde todos os setores foram impactados pelas medidas de restrição necessárias no combate ao Coronavirus, não seria exceção o mercado de trabalho.

Nesse Dia do Trabalho de 2021, envolto por cenários instáveis, com constantes mutações e mudanças é fundamental estarmos atentos sim às ameaças, mas principalmente, às oportunidades. Diga-se de passagem, oportunidades inúmeras.

É fato que a pandemia trouxe consequências negativas à economia e consequentemente nas vagas de trabalho. Mas como disse o Apóstolo Paulo “Por tudo dais Graças”. Essa citação embora retirada de um contexto religioso, também é de um contexto universal essencial. Diferente do Homem Profano, o Maçom deve ter postura positiva e sempre buscar sua ascensão e aprendizado, não importando o cenário, na ininterrupta ação de “Edificar seu Templo Interior”.

Cair em lamentação ou associar a culpa do momento a terceiros não são atitudes maçônicas, tampouco produzirão resultados diferentes. O verdadeiro Maçom sempre irá agir na transformação do que profanamente se define ruim em algo bom, e o que é bom, deve torná-lo ainda melhor.

Com a “Crise da Pandemia” veio junto também as “Grandes Oportunidades da Pandemia”, por isso, atitude proativa e positiva são essenciais para aproveitá-las. Características essas que se esperam de um Maçom.

Contexto Histórico do Trabalho

A palavra Trabalho vem do latim Trippaliare, cujo significado é torturar. Realmente nos primórdios da história o trabalho era considerado uma tortura, um sacrifício. Nas Sagradas Escrituras, na “lenda” da expulsão de Adão e Eva do Paraíso por terem desobedecido o Senhor e comido o fruto do Conhecimento, foram sentenciados com o Trabalho para sobreviver. Isso causou uma enorme enculturação desse status quo ao ato de trabalhar que perdurou muitos séculos.

Ainda na Idade Média, o trabalho tinha má reputação. Na Grécia Antiga, era malvisto. Para Aristóteles o trabalho era antônimo de liberdade, e para Homero o ócio era um objetivo desejado desfrutado pela nobreza grega. Num contexto social patriarcal, machista e escravagista, o trabalho pesado era para mulheres, servos e escravos. Ainda falando da Idade Média, a agricultura, atividade econômica quase que predominante, era uma tarefa muito mais árdua do que nos tempos de hoje. Sua mão de obra era composta de classes sociais desfavorecidas, totalmente dominadas e praticamente sem mobilidade: trabalhar não era uma opção, e sim uma ordem.

O início da mudança

No Século XVI, Martinho Lutero declarou a ociosidade um pecado. Segundo Lutero, o homem nasce para trabalhar. O Trabalho é um “serviço divino”, ao mesmo tempo “vocação”. Afinal, segundo as Sagradas Escrituras, até Deus Trabalhou na construção do Mundo e descansou no sétimo dia, analogamente. No contexto anglo-americano, o trabalho é um sinal de Deus. Todo esse contexto social, religioso e cultural foi o embrião primitivo do capitalismo e foi ganhando o mundo.

O trabalho passa de castigo e para ato dignificante, divino. Embora divino, é sabido que nos registros ao longo da história, os esforços extenuantes dos trabalhadores nem sempre foram bem recompensados. Coisas do Mundo Profano antigo, moderno e atual.

Curioso a visão a esse respeito do Apóstolo Paulo, séculos antes dessa nova percepção sobre o trabalho, onde afirmou“(…) todo trabalhador é digno de seu salário”.

Seguindo o storyline das mudanças históricas, no Século XVIII a Europa começou a ser industrializada, em paralelo ao exponencial crescimento da população. O espaço de cultivo ia dando espaço às cidades e centros urbanos. Com isso, o êxodo rural se tornou realidade pelos quatro cantos. Trabalhadores do campo agora estava nas fábricas. Os trabalhadores passavam até 14 horas em serviço, em 6 dias da semana. Com o advento do vapor e do tear mecânico essa produção aumentou rapidamente.

O capitalismo passou a criar um grupo seletíssimos de abastados, em contrapartida da formação de uma legião de trabalhadores e proletariado. Os abismos sociais começaram a atingir níveis alarmantes.

O avanço da tecnologia e informação é nova onda econômica da era atual. A falsa promessa que traria mais “ócio” como na Grécia Antiga, mas um “ócio produtivo” com lazer, entretenimento e estudo, foi na verdade uma baita utopia. Nunca trabalhamos tanto na história. Estamos 24 horas conectados a tudo durante os 365 dias do ano.

É importante ressaltar que os Maçons de todas as épocas, lutaram como protagonistas em muitos movimentos que buscaram a igualdade e justiça a trabalhadores de todo mundo em seus respectivos países. No Brasil, a Maçonaria teve papel fundamental na abolição da escravatura, por exemplo. Isso vai de encontro a citação anterior de Paulo que diz que todos são dignos de salário, e complementamos, de salário digno é bom frisar.

Trabalho na Maçonaria

Maçonicamente, não importa sua linha de estudo quanto a origem da Ordem, Data venia, a mesma surgiu no contexto do Trabalho Manual, no esforço físico que exige grande esforço, o que chamamos de Maçonaria Operativa. Um dos casos mais simbólicos e emblemáticos para o mundo maçom é a construção do Templo de Salomão. Desse processo surgiram a divisão dos graus, sinais e outros conhecimentos. Na Maçonaria o trabalho sempre foi dignificante, necessário para evolução individual, da humanidade, para a paz e a própria felicidade atemporal. Na era Operativa a maioria dos profissionais eram de artesãos e construtores.

Com a evolução da humanidade, culturalmente, economicamente e socialmente acima relatadas, isso por volta do século XVIII, a Maçonaria passa de Operativa para Especulativa, pois no meio social e econômico surgiam intelectuais, prestadores de serviço e outros tipos de profissionais. O esforço mental passa a ser considerado Trabalho e não mais ócio. Novos tempos. A maçonaria evolui junto com a humanidade e vice-versa. Com isso a Maçonaria se torna simbólica também.

Voltaire escritor, ensaísta, deísta, filósofo iluminista francês e maçom defendia que o trabalho nos afasta de três grandes males: o ócio, o vício e a pobreza. Hora, afinal o que “Que vindes Vindes fazer aqui?”. A resposta, que é de conhecimento de todos os Irmãos, confirmam as sábias palavras de Voltaire.

O Trabalho em Loja é toda ação, movimento, é litúrgica, mística, esotérica e intelectual. Tudo que ali é realizado, o desenrolar do Ritual, a inscrição de uma ATA, de uma Prancha é Trabalho.

Nessa fase histórica da Maçonaria Especulativa e Simbólica, o Aprendiz recebe como tarefa o desbastamento da Pedra Bruta, um Trabalho Braçal e dirigido, onde o aprendizado e experiência são adquiridos pelo esforço e vontade. Já o Companheiro, familiarizado com suas tarefas, as executa com alegria e afeição, em união com os demais companheiros e ensinando os Aprendizes. Os Mestres, conhecedores profundos da sua importância, além de complementar os Trabalhos dos Aprendizes e Companheiros, os orientam para que a Obra seja Justa e Perfeita. Ainda existe a Maçonaria Filosófica, que são os graus após o 3º. Essa fase da vida maçônica é o campo místico e interior que o Trabalhador Maçônico realiza para atingir outros planos.

Na Maçonaria nada é por acaso, nada é aleatório e os Trabalhos são todos integrados e harmônicos, existem por uma razão, assim como todo o Universo. Cada corpo, cada engrenagem necessitam fazer sua parte para que o todo sempre ande bem. Além disso, o Trabalho Integrado, ou mesmo, em Grupo, está no 9º Landmark onde diz: “A Necessidade dos Maçons se congregam em Lojas Simbólicas”. Esse congregar pode ser facilmente entendido como trabalhar integradamente ou trabalhar em grupo.

Um trabalho simbólico é organizado em forma grupal, em unidade, interdependente, coordenadamente e harmonicamente. Igual o Universo Macrocosmo e o Organismo Humano Microcosmo.

O Maçom Performa?

No mundo profano, “performar” é um termo muito usado hoje para indicar quando um projeto ou profissional atinge seu objetivo. Dizemos que ele performa.

Quando o Maçom Performa dentro e fora do Templo?

– Quando se conscientiza que o “Todo” é sempre mais importante do que a “Parte”;

– Quando o papel da “Parte” é bem executado dentro do “Todo”, ou seja, na “Totalidade”;

– A harmonia ou relação dessa “Parte” na “estrutura maior”.

Quando o Maçom Performa é digno de aumento de salário em todos os sentidos. A Maçonaria celebra o Dia do Trabalho continuando sua missão milenar, formando em todo o mundo milhões de Obreiros aptos a serem bons trabalhadores em suas oficinas simbólicas, por conseguinte, aptos aos desafios dos trabalhos profanos. Como agentes de transformação social, livres e de bons costumes, corroboram na construção de um mundo melhor, combatendo as injustiças e desigualdades não só no âmbito trabalhista mais também de forma geral.

A Grande Loja Maçônica Nacional deseja a todos os Irmãos um ótimo Dia do Trabalho, e que o mesmo, seja iluminado pelo Grande Arquiteto do Universo não só hoje, mas todos os dias do ano.

Jornalismo e Conteúdo GLOMN